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Foto do escritorFernanda Fazzio

A teoria do trauma em D.W Winnicott

O relevo na teoria acerca do trauma para o psicanalista inglês Donald Winnicott (1896-1971) direciona-se para aquilo que foi impossível ou difícil de representar e simbolizar na vida do sujeito, levando em conta a fragilidade de um self que não conseguiu se organizar e progredir nos períodos iniciais da infância.

Se na clínica freudiana o traumático está em relação aos desejos insatisfeitos, especialmente, nas considerações de recalque e as lógicas econômicas de prazer-desprazer, para Winnicott o ambiente é crucial para se pensar o trauma. A psicanalista Myriam Uchitel (2001) retoma a ideia do ambiente em Winnicott como lugar da dimensão estruturante durante o processo analítico. O central, aqui, seriam as falhas e distorções no processo de desenvolvimento, se configurando como uma “clínica da dissociação” (UCHITEL).

Winiccott defende que o trauma ocasiona uma interrupção da continuidade do Self, provocando um congelamento da situação de fracasso. O sentimento predominante é a experiência original de agonia primitiva, da ordem da “natureza intolerável”, em que o trauma não pode se amarrar ao passado e se mostra, assim, de forma indefinida. A função do analista, portanto, seria auxiliar a religação/reunião de aspectos fragmentados do Eu (ego) dentro de uma atual experiência temporal e do controle onipotente.

Não por menos que Winncott aponta o “setting psicanalítico” como representante do meio ambiente, sendo imprescindível na situação de análise a construção de um ambiente que transmita segurança, propicie confiança e possibilite a regressão à dependência. Winnicott articula a importância da vivência da transferência do evento traumático e sua agonia a fim de poder experimentar, em análise, o medo de um acontecimento passado que ainda não foi experienciado.

Só assim a reinstalação de situações traumáticas podem ser “descongeladas”, permitindo o predomínio de um self verdadeiro nesse processo de elaboração do trauma. O analista precisa, então, se nutrir do espaço transicional criado no setting e na relação analista e paciente para conseguir ocupar o lugar de analista suficientemente bom.

 

Bibliografia Consultada

CHNAIDERMAN, Mirian. Ensaios de Psicanálise e Semiótica. São Paulo: Editora Escuta, 1989.

FREUD, Sigmund (1856-1939). Obras Psicológicas de Sigmund Freud: edição standard brasileira/ Sigmund Freud; com comentários e notas de James Strachey; em colaboração com Anna Freud; assistidos por Alix Strachey e Alan Tyson; traduzido do alemão e do inglês sob a direção geral de Salomão- Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund (1856-1939). Obras Completas; Tradução de Paulo Cesar de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

FERREIRA, Márcia Porto. Trauma não elaboráveis: clínica psicanalítica com crianças. São Paulo: Zagononni, 2011.

GUELLER, A & SOUZA, ALS (org). Psicanálise com crianças: perspectivas teórico-clínicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008.

UCHITEL, Myriam. Neurose traumática: uma revisão crítica do conceito de trauma. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.

WINNICOTT, Donald. O Ambiente e os Processos de Maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artmed, 2007.

WINNICOTT, Donald. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1975.

WINNICOTT, Donald. Natureza Humana. Rio de Janeiro: Imago, Ed.; 1990.

WINNICOTT, Donald. Tudo começa em casa. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011

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